JORNAL DA SERRA DA CANTAREIRA

 

 
       






 


 

 

 


 


 

 

Ambiente


Caminhando para o pior


Guarulhos - São Paulo

C
om cerca de 10 bilhões de toneladas de gás carbônico
emitidas no mundo em 2006, o que representa um aumento
de 35% em relação a 1990, a quantidade de CO2
na atmosfera aumenta mais rápido que o previsto

 

O crescimento econômico mundial, no modo como vem acontecendo nos últimos 17 anos, provocou um aumento na quantidade de CO2 na atmosfera em ritmo muito mais intenso que o previsto, afirmaram cientistas em estudo publicado em 22 de outubro, nos Estados Unidos.
"O aumento da quantidade de dióxido de carbono cresce 35% mais rapidamente do que o que acreditávamos em 2000", afirmou, em comunicado, um dos organismos responsáveis por este estudo, o BAS (British Antartic Survey), da Proceedings of the National Academy of Sciences.

Saturação das matas e oceanos

O emprego abusivo dos combustíveis provocou acréscimo de 17% na taxa de CO2. Os 18% restantes estão ligados ao declínio da capacidade de absorção de gás pelas florestas e oceanos, revela a pesquisa.  Situação alarmante.
"Há 50 anos, para cada tonelada de CO2 emitida, 600 quilos eram eliminados naturalmente. Em 2006, apenas 550 quilos foram eliminados por tonelada e este número vem diminuindo", explicou o responsável pelo estudo, Pep Canadell, do Projeto Global do Carbono. Isso significa “saturação”.  Se florestas são devastadas  ou se ressentem com a poluição, e crescem as emanações de dióxido de carbono, não é nada difícil concluir pelo desastre, já que tal situação agrava de modo significativo o aquecimento global.
A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera está aumentando a uma velocidade que não pode ser explicada apenas pelo crescimento econômico de China e Índia. A razão é a perda de eficiência dos “sumidouros de carbono” que absorvem as emissões nos oceanos e na terra, afirmam pesquisadores na revista da Academia Nacional de Ciências. Cerca da metade do CO2 resultante das atividades humanas é absorvida por “sumidoruos” naturais como florestas, outras formas de vegetação e os oceanos. Mas este novo estudo revela que sua eficiência diminuiu significativamente na última metade do século 20.

Crescimento das florestas tropicais diminui

Outra série de estudos publicados também em outubro na revista New Scientist diz que as selvas tropicais parecem ter perdido sua capacidade para absorver CO2 devido ao aquecimento global. Em todo o mundo, do Amazonas até o arquipélago indonésio, o crescimento das árvores está sofrendo desaceleração. As temperaturas mais altas, em particular durante a noite, já haviam sido apontadas como um fator que as afetaria, mas ninguém imaginava que esse processo começasse antes de a temperatura mundial aumentar outro  1,5 grau centígrado. Calcula-se que as florestas tropicais absorvem 15% do carbono resultante da atividade humana e são consideradas vitais para evitar uma catastrófica mudança climática. Assim, o problema não é só o aumento da temperatura, mas o fato de as plantas terem de sobreviver com maiores índices de CO2.

Ártico sem gelo em 10 anos

Os oceanos também estão esquentando, o que reduz sua capacidade de reter carbono, alertou Ted Scambos, pesquisador do Centro Nacional da Neve e do Gelo com sede na cidade norte-americana de Boulder.  Águas mais temperadas do Pacífico norte estão se voltando para o oceano Ártico e esta é uma das principais causas que explicam a perda de gelo registrada no verão boreal. Pela primeira vez desde que se tem memória, a legendária Passagem do Noroeste, que une os oceanos Atlântico e Pacífico, esteve livre de gelo. Embora no Ártico o gelo diminua temporariamente em cada verão, neste ano a perda superou em 2,6 milhões de km2 as registradas no passado, superando todas as projeções científicas, inclusive as que apontavam os piores cenários, disse Scambos. Provavelmente, representa o advento de uma nova era de aquecimento acelerado nas próximas décadas, com a perspectiva de o Ártico ficar totalmente sem gelo dentro de 10 anos, acrescentou Scambos. Os oceanos mais quentes estão estatisticamente relacionados com quatro das cinco maiores extinções de espécies nos últimos 520 milhões de anos, segundo estudo divulgado no final de outubro na Proceedings of the Royal Society, revista britânica especializada em ciências biológicas. A Terra está a caminho de atingir esse ponto que desencadeia o processo de extinção em aproximadamente cem anos se não forem reduzidas as emissões de gases causadores do efeito estufa, previu Peter Mayhew, da Universidade de York, na Grã-Bretanha.

Conseqüências imprevisíveis mas alarmantes

A conseqüência da menor capacidade para absorver as emissões de carbono é o aumento mais rápido da temperatura média mundial. É um ciclo vicioso. Provavelmente alcance o ponto máximo das previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, que alertam para uma alta entre dois e 4,5 graus centígrados. Se for duplicado o nível de CO2 as conseqüências são imprevisíveis.
Quando a temperatura aumentar cerca de 4 graus centígrados as condições no planeta serão tão diferentes que será impossível determinar quando se deterá o aquecimento e qual impacto terá, escreveram Myles Allen e David Frame, da Universidade de Oxford, na revista Science de outubro.

Reduzir emissões  e desmatamentos  é  a única esperança

“O futuro será ruim se os oceanos e as florestas retiverem menos carbono. A única esperança está em uma acentuada redução das emissões. Se milhões de pessoas pressionarem para se conseguir esse objetivo, as mudanças poderiam ocorrer de maneira muito rápida”, disse Scambos e completou: “Meu maior temor é que por falta de uma ação rápida não tenhamos logo os recursos para fazer outra coisa que não seja manter nossas cabeças fora da água”.
O protocolo de Kyoto fixou o objetivo de registrar em 2012 a emissão de gases produtores do efeito estufa em um nível  5% inferior ao dos anos 1990. Mas, diante do resultado das pesquisas, o que acontece é exatamente o contrário.
A despeito de todos os alertas e de tantos debates, na prática a humanidade continua caminhando para o pior. Mas se  os governos e os donos do poder econômico não abrem mão dos velhos conceitos e velhas práticas, precisam ser insistentemente questionados e pressionados. E cada um de nós tem que fazer a sua parte no dia-a-dia: informando-se e atuando. As palavras esclarecem; os exemplos arrastam. (Fonte: IPS/Envolverde)