Não compre animais domésticos. Bicho não é mercadoria. Adote: existem muitos precisando de um lar e de amigos

 

 
       




 

 

 
 

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Pensando bem...
Este direito - o de matar um veado ou uma vaca - nos parece natural porque estamos no alto da hierarquia. Mas bastaria que um terceiro entrasse no jogo, por exemplo, um visitante de outro planeta a quem Deus tivesse dito: "Tu reinarás sobre as criaturas de todas as outras estrelas", para que toda a evidência do Gênese fosse posta em dúvida. O homem atrelado à carroça de um marciano - eventualmente grelhado no espeto por um visitante da Via-Láctea - talvez se lembrasse da costeleta de vitela que tinha o hábito de cortar em seu prato. Pediria (tarde demais), perdão à vaca." - Milan Kundera

(postado por Rosalina Conceição Gomes Alves)

 

Bichos


O ser humano e sua relação de domínio sobre os outros seres vivos
por Isabel Raposo


"Sinto pena dos animais no planeta Terra dominado pelo ser humano. Deve ser muito difícil para eles esse convívio geralmente opressivo e cruel". Quando me atrevi com tal "disparate" diante de um senhor que contava bravatas de como seus cães matavam lagartos e coatis em seu quintal na Serra da Cantareira, ganhei de imediato a sua antipatia. Incomodei sua vaidade?
Mas você já se deu conta do modo como o ser humano vem atuando? Desde que os primeiros seres humanos trouxeram os animais para junto de si e os "domesticaram", começaram os excessos.

Um animal que sofre um processo de engorda, por exemplo, como em geral se vê nas grandes criações de gado, para se obter dele maior lucro, perde a força e a agilidade. O aumento excessivo da gordura do animal só serve para lhe causar grande dano. Outro exemplo de situação cruel da qual pouca gente se dá conta: as galinhas poedeiras, inocentes e engaioladas, pensando que sempre é dia, por causa das luzes permanentemente acesas – para que produzam mais ovos. Além do que, têm os dias abreviados para servir de alimento. O mesmo acontece com as vacas leiteiras, sugadas por máquinas além do seu ritmo natural para satisfazer a fome e a ambição humanas. Já os bezerros têm sua cota de leite rigidamente controlada - pelos humanos, é claro. Recentemente ouvi uma notícia de criadores que dão cerveja aos bois porque a carne fica macia!...

A domesticidade a que o homem submeteu alguns animais selvagens, como o lobo, por exemplo – de quem os cães se originaram -- é artificial, fazendo com que se tornassem inteiramente dependentes para se alimentar, já que não podem buscar seu alimento por si próprio como faziam em seu estado natural e selvagem. O mesmo acontece com os gatos, cavalos, bovinos, suínos e com os pássaros.

O ser humano dispõe dos animais -- alguns já ganharam o qualificativo de "domésticos" - em função do prazer de ter “um bichinho de estimação”, e poucos se preocupam com o verdadeiro bem estar desses seres vivos. Quando pequenos, são separados da mãe e dos irmãos, levados como um brinquedinho "vivo", mas de quem se ignora o desamparo, a tristeza, o desconforto de se ver num lugar estranho, entre seres estranhos. Quando um filhotinho que você trouxe para casa chora, não deve ser repreendido (não é manhoso); precisa de afago, de um tom de voz carinhoso e paciente, de palavras mansas. O que ele sente é desamparo, medo, solidão.

Assim, se você quiser adotar um animal, então adote dois da mesma espécie; eles serão menos infelizes. Quem traz um animal para junto de si - do mesmo modo que quem planta flores em vasos – torna-se responsável por eles. Pelo bem estar deles. Este o verdadeiro sentido da frase de Saint Exupéry, que virou moda e correu o mundo, mas cuja essência passou a léguas de distância de muitos pensantes: “Tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas”. Cativar: manter em cativeiro. Mesmo que sejam os muros da sua casa. Ou pior: o canil, a gaiola.

Depois que conheci o pensamento de Prentice Mulford, nunca mais olhei os animais do mesmo modo e sinto intensa compaixão por eles. Sua impotência sob o domínio dos humanos me comove. Sua inocência submetida aos humores de seus donos me contrai. O que vejo é o mais profundo desrespeito a que têm sido sujeitados.

Mulford viveu no século XIX, mas foi um homem além de seu tempo. E, penso, até mesmo do nosso. Ele afirma que "a natureza não quer que se perpetuem, em nenhum plano de vida, as condições resultantes da violência ou do artifício. Quanto mais se progride na domesticidade dos animais ou vegetais, quanto mais gerações ficarem submetidas à criação pelo homem, exigirão cada vez mais cuidados e estarão cada vez mais sujeitas a toda espécie de doenças”. De fato.
 

Veja, por exemplo, o que houve na Europa com o surgimento da “vaca louca”: esta doença é fruto de um comportamento perverso, pois o gado, que é herbívoro, passou a ser alimentado com ração produzida com carne e ossos bovinos; o ser humano os transformou, mais do que em carnívoros, em canibais, já que foram alimentados com restos da própria espécie. Disso resultou o desequilíbrio que teve como conseqüência a vaca louca: afetou a saúde humana e provocou a mortandade de milhares de animais inocentes. Há um limite que a criação doméstica ou artificial nunca pode ultrapassar, embora a maioria dos humanos acredite que sim. Agora, como vivemos sob a ameaça da gripe aviária, milhares de animais "produzidos" em cativeiro estão sendo sumariamente sacrificados. É sofrimento demais.

Prentice Mulford Mulford escreve: "o animal hípico, criado de modo artificial e em cativeiro, vai se tornando cada vez mais delicado e exige também maiores cuidados. Se um dia esses cuidados cessarem, e o animal conseguir sobreviver a isso, em pouquíssimas gerações retomará o seu tipo original e primitivo, como se pode observar no coelho: quando entregue a si próprio, em três ou quatro gerações se revestirá outra vez de seu pêlo escuro; é a cor da sua espécie em estado selvagem, e quando se tiver tornado já cinzento ou pardo será um animal muito mais forte do que quando era branco ou mestiço. A despeito de tudo a natureza conhece muito melhor o que pode fazer de si mesma". Pense também nas galinhas brancas das granjas, nos bovinos.

"O homem não pode nem poderá realizar nunca verdadeiros progressos sobre o que é natural" – afirma Prentice Mulford. "Deixemos o espírito ao seu próprio impulso à sua própria direção, e ele fará bem, em todo sentido, tudo o que lhe for conveniente. Quando o homem quer corrigir a natureza, acaba por se mutilar".

Já é notório esse resultado.