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Filho da Floresta,
protegido das divindades,
poeta do Amor e da Esperança.
Sentimentos que, aliados a uma profunda consciência, o fazem mergulhar de corpo e alma na causa pela Amazônia.
Em sua vida, como escreve seu amigo, o jornalista Rogério Scavone, ”tanto observou terras distantes e as belezas da natureza, como testemunhou cenas dramáticas da miséria, da violência e da injustiça” (...) em ”tempos difíceis, que a memória e a indignação não deixam esquecer”.
Thiago de Mello vive hoje junto ao rio Andirá, na terra em que se fincam suas raízes.
No final de maio, durante o Fórum Sustentar, em Campinas,
proferiu uma breve, lúcida e aplaudida palestra; também leu este poema inédito, que generosamente ofereceu para ser publicado no Jornal da Serra.
É UMA QUESTÃO DE AMOR
Thiago de Mello
O que é o meio ambiente?
É simplesmente uma casa,
só que grande já demais.
Do tamanho do universo.
Dentro dela cabe o mundo,
mundo, mundo, vasto mundo,
cabe o sonho azul profundo
e mais, do que tudo, cabe
o amor que essa casa tem.
Amor: dar e receber.
A Casa gosta é de dar,
sabe que é sempre a melhor
maneira de receber.
O seu nome é Terra,
céu e chão da Natureza,
mãe da sombra e do esplendor,
do orvalho e do temporal.
É a Gaia do mito grego.
Já não é mais um segredo
que ela é um ser vivo também.
E vive de inventar vida.
Cada coisa que ela cria,
pássaro, nuvem, lajedo,
oceanos, constelações,
a luz do dia e a da noite,
é pra dar contentamento
a quem mora nela e dela.
Sua invenção mais poderosa?
O manancial que não cessa.
Sua glória e sua festa
é ter plantado a Floresta:
pátria de todas as águas,
verde de todas as cores.
Mãos de mágicos poderes
Prontas sempre a bem servir.
Vôo sereno de garças
ensinando paz aos homens.
De gavião e bem-te-vi,
de coruja anoitecida
dando adeus paras as estrelas.
De caboclo plantador
de mandioca pra farinha.
Da sardinha ao peixe-boi,
da argila escura ao diamante.
De boto de olho na moça
tomando banho no rio.
De tudo a Floresta faz
um jeito para ensinar
a magia de viver.
Mas da multidão de seres
que ela gerou, cuidadosa,
de todos o seu predileto,
o Humano, feito e perfeito
das virtudes dos seus verdes,
o único a quem deu o dom
de se indagar e escolher,
mal nascido, a malquerença
da cobiça o converteu
em maldoso Desumano:
animal ímpio, feroz,
que lhe vem varando o ventre
com lâmina envenenada
de gaz, fogo e ingratidão.
A Terra sabe ser mãe.
Queimada e compadecida,
persiste fiel à bondade,
que é seu destino e seu dom.
Ela te ama e estende a mão
a ti filho da Floresta,
a mais luminosa benção
que a Natureza te deu.
Dos seus âmagos em brasa,
das flores desarvoradas,
das asas enlouquecidas,
quando anoitece
- ouve bem -
Se ergue um pungente clamor.
Não é grito de guariba,
não é esturro de onça
nem silvo do Curupira.
É a mata pedindo ajuda.
A Floresta é a tua casa,
cuida dela com amor.
Rio Andirá , Barreirinha,
No coração do Amazonas
2008 |